#FILMOTECA# - "Rocky: Um Lutador" (1976)

Sinopse: Rocky Balboa é um pequeno boxeador da classe trabalhadora da Filadélfia que é arbitrariamente escolhido para lutar contra o campeão dos pesos pesados, Apollo Creed, quando o adversário do invicto lutador agendado para a luta é ferido.

De tempos em tempos, o Cinema consegue criar filmes que se tornam atemporais. Estranhamente, alguns desses filmes se consagram com atores ou atrizes que não são tão bons, mas que de alguma forma compõe personagens que ganham a simpatia do público e a crítica especializa de uma forma inesperada. Então, é justamente dentro desse efeito "mágico" que esse filme se encaixa com uma luva.

O desafiador mundo do boxe é retratado através de um roteiro aparentemente simples, mas que aos poucos vai se mostrando ao telespectador como algo mais complexo do que o esperado. Principalmente por todo o seu contexto surpreendentemente dramático, toda a narrativa é construída sobre um sólido alicerce e que finca várias raízes fortes ao longo do seu desenvolvimento.

A retratação desse esporte nas telonas não é apenas uma simples fotografia utilizada como uma desculpa qualquer para escrever uma história, mas sim uma composição mais imersiva sobre os bastidores que cercam esta essa modalidade esportiva. Não se trata apenas de mostrar o boxe como um espetáculo... Mas sim, sobre o poder que um esporte pode exercer na vida de uma pessoa determinada a praticá-lo e até onde essa escolha pode influenciar na vida de outras pessoas ao seu redor.

Protagonizado por Sylvester Stallone de uma forma muito segura e competente, esse é - indiscutivelmente - um dos melhores (senão o melhor) trabalho de sua carreira. O trabalho técnico e artístico que envolve a criação de Rocky Balboa enquanto ser humano é muito consistente porque ele é feito com base em várias camadas e não apenas uma única (o que naturalmente o transforma em uma figura mais crível).

Embora a premissa gire em torno de apenas um único personagem principal (algo que tenderia a soar chato e monótono, a depender do seu desenvolvimento), é louvável o esforço dos roteiristas em fazer com que todos os outros personagens (bem como todos os elementos construtores do roteiro) que cercam o filme orbitem sobre ele e o façam ganhar todos os holofotes (mesmo que hajam alguns deslizes no resultado geral).

O destaque para Stallone não vem por acaso, afinal, Rocky é a alma do filme e é através dele que tudo se conecta. A determinação e fragilidade de seu personagem são aspectos fundamentais - e muito bem expostos por ele na tela - que fazem com que o peso da narrativa que tem o boxe como plano de fundo seja realmente tratada como algo a mais (como eu já mencionei anteriormente) e adquira o peso necessário para se o filme em algo que deve ser lembrado.

Cercado por outros personagens carismáticos (que são interpretados por um bom elenco), a narrativa ainda encontra espaço para difundir outros dilemas e ainda convence o público sobre uma inusitada surpresa - o icônico relacionamento de Rocky com Adrian - que acaba imprimindo um ar mais sentimental ao filme e isso cria um contra ponto muito interessante porque abre espaço para uma humanização extra nos personagens e tudo isso é bem amarrado e explorado pelo diretor John Avildsen, que faz um ótimo trabalho ao misturar o drama e o romance sem soar de forma piegas.

No que diz respeito as suas categorias técnicas, o que vale ser destacado é a inesquecível trilha sonora (composta por Bill Conti) a edição de cenas bem movimentada (especialmente nos momentos onde ocorrem as ótimas cenas de luta dentro do ringue) e uma fotografia que prima pelos momentos mais densos da narrativa. Em geral, mesmo não sendo um filme bem produzido (porque tudo parece ser muito "artesanal") tem todos esses aspectos a seu favor.

Rocky se tornou muito mais do que apenas um filme porque conseguiu se projetar por completo para fora da tela como uma forte referência de força e determinação que dialoga com o público de uma maneira relevante, criativa e atemporal em suas diversas vertentes que facilmente se conectam com os problemas do mundo real e seus persistentes obstáculos.